O computador no ambiente escolar: Uma reflexão

É urgente repensar a educação. A sociedade contemporânea exige profissionais com capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de se conhecer como individuo critico e reflexivo e ser agente transformador. A educação capaz de formar esse indivíduo não é uma educação baseada na transmissão de informação, mas uma educação que oferece oportunidades ao indivíduo de construir seu conhecimento e desenvolver suas competências.
Inserir o computador na escola pode ser um dos recursos para viabilizar uma educação moderna e capaz de formar um indivíduo reflexivo, critico, capaz de pensar, aprender, agir e conhecedor de si mesmo. Entretanto, usar o computador para criação de ambientes que enfatizam a construção de conhecimentos implica uma análise cuidadosa do que significa ensinar e aprender utilizando a informática como recurso, pois dependendo da visão pedagógica que se tem do uso do computador na escola, este pode ser utilizado como “máquina de ensinar” ou como “máquina para ensinar”.
O computador usado como “máquina de ensinar” significa informatizar os processos educacionais tradicionais. É implementado no computador uma série de informações que são passadas ao aluno na forma de tutorial, exercício, prática, jogo e, ainda, faz-se perguntas e recebem-se respostas, verificando se a informação foi retida. Essa forma de se utilizar o computador é uma visão instrucionista onde a tarefa de administrar o processo de ensino é executada pelo computador, livrando o professor da tarefa de ensinar.
O computador usado como “máquina para ensinar” promove a construção do conhecimento do aluno por intermédio do computador. Quando o aluno interage com o computador, segundo José A. Valente, estabelece-se um ciclo: descrição-execução-reflexão-depuração-descrição que é o que impulsiona a construção do conhecimento através do uso do computador. Entretanto, esse processo não ocorre simplesmente colocando o aluno na frente do computador. Nesse processo, é preciso um mediador, um profissional que conhece os potenciais do computador do ponto de vista computacional e do ponto de vista pedagógico. Esse é o papel do professor na utilização do computador dentro da abordagem construcionista.
O processo, descrito anteriormente, ocorre toda vez que o aluno interage com o computador utilizando softwares abertos onde é o aluno que passa informação para máquina e não a máquina para o aluno. Por exemplo, para se criar um programa que resolve determinado problema, o aluno tem que ser capaz de passar para a máquina as ideias da resolução do problema através de um sequência de comandos da linguagem de programação. Isso significa fazer a descrição do problema. O computador, então, executa os comandos e apresenta na tela uma solução para o problema. O aluno olha para a solução apresentada pelo computador e faz uma reflexão sobre a solução apresentada. Caso a solução esteja correta, o aluno não precisa modificar suas hipóteses de resolução; caso contrário, o aluno depura seu programa na intenção de encontrar o seu erro.
Utilizar o computador na escola como “máquina de ensinar” é manter a prática pedagógica vigente, onde muda apenas quem transmite o saber, saindo do professor e passando para a máquina. Essa visão tem facilitado a implantação do computador na escola, pois se informatiza o processo, não exigindo investimento na formação do professor que se tornará capacitado a utilizar o computador quando treinado nas técnicas de uso de cada software. Nesta visão, estamos preparando cidadãos obsoletos que não capazes de enfrentar os desafios impostos pela sociedade contemporânea.
Utilizar o computador na escola como “máquina para ensinar” exige uma mudança de paradigmas. É preciso entender o computador como uma nova forma de representar o conhecimento, o que demanda rever o papel do professor e do aluno. O professor deixa de ser um transmissor de informação para ser um facilitador da aprendizagem, organizador de situações que conduzem à construção do conhecimento dos alunos, através do ciclo descrição-execução-reflexão-depuração-descrição, o que permite ao aluno buscar suas próprias soluções para os problemas que lhe são apresentados.
Neste contexto, o aluno deixa de ser passivo, para tornar-se protagonista da sua aprendizagem, exigindo dele uma reflexão crítica e a busca constante das soluções para os problemas da sociedade em que vive. Sob orientação do professor, o aluno deve tornar-se um grande pesquisador. Os softwares são os meios para que o aluno indague, investigue, levante hipóteses e construa seu conhecimento de forma significativa e produtiva para a sua vida.
O professor deve, então, estar atento para o uso dessa tecnologia em benefício da aprendizagem do aluno e utilizar o computador como um recurso interdisciplinar, uma ferramenta a mais com a qual possa contar para bem realizar o seu trabalho, desenvolvendo projetos que conduzem o aluno à construção do seu próprio conhecimento.
Diante do exposto, para que a introdução dos computadores na escola produza resultados satisfatórios é necessário um plano pedagógico, onde são discutidos os objetivos da utilização do computador como ferramenta educativa. É necessário que os professores sejam capacitados para promoverem a integração entre os conteúdos de sua disciplina e a utilização do computador como recurso que propicie ao aluno desenvolver suas habilidades e a capacidade de aprender a aprender.
A escolha dos softwares educacionais que melhor atendam aos objetivos educacionais de cada área do conhecimento é outra etapa que deve ser analisada com especial cuidado, porque se corre o risco do computador tornar-se um brinquedo que deseduca ao invés de desenvolver a criatividade do aluno, a capacidade de inovar e inventar, é preciso, portanto, muita cautela.
Segundo José Junio Lopes, para que o uso do computador no ensino seja o de um “agente transformador, o professor deve ser capacitado para assumir o papel de facilitador da construção do conhecimento pelo aluno e para que isso ocorra o professor tem que ir para o laboratório de informática dar sua aula e não deixar uma terceira pessoa fazer isso por ele. Mas, o professor deve ser constantemente estimulado a modificar sua ação pedagógica. Diante dessa nova situação, é importante que o professor possa refletir sobre essa nova realidade, repensar sua prática e construir novas formas de ação que permitam não só lidar com essa nova realidade, como também construí-la. Não basta haver um laboratório equipado e software à disposição do professor; precisa haver o facilitador que gerencie o processo pedagógico.”
Daí se faz necessário a presença de um profissional que não deve ter apenas uma formação técnica, mas uma formação pedagógica, uma experiência de sala de aula. Deve ser um profissional “capaz de fazer a ponte entre o potencial da ferramenta (softwares educativos) com os conceitos a serem desenvolvidos.” Esse profissional deve ser um gerente do processo capaz de propiciar situações onde os professores sintam-se instigados a superar suas dificuldades no uso da tecnologia em conformidade com o projeto pedagógico da escola. Para isso, esse profissional, além da visão pedagógica, precisa ter uma visão abrangente dos conteúdos das diversas áreas do conhecimento, qual a contribuição que cada disciplina pode oferecer ao projeto pedagógico da escola e ser capaz de atuar para que a informática seja o recurso capaz de transformar a prática da sala de aula.
Afirmamos, portanto, que ensinar no e com o computador só atingirá resultados significativos se o computador estiver, de fato, integrado no contexto educacional da escola onde direção, coordenação, professores e alunos buscam uma mudança estrutural do processo ensino-aprendizagem, de participação eficaz na construção do conhecimento. Caso contrário, o computador será apenas mais um reforço das metodologias tradicionais de ensino que conduzem a uma educação obsoleta e ultrapassada, porém informatizada.

Referências Bibliográficas

VEIGA, Marise Schmidt. Computador e Educação? Uma ótima combinação. Petrópolis, 2001. Pedagogia em Foco. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/inedu01.htm. Acesso em 06/03/2009.
VALENTE, José Armando. O computador auxiliando o processo de mudança na escola. Campinas: NIED-UNICAMP E CED-PUCSP. Disponível em: http://www.nte-jgs.rct-sc.br/valente.htm. Acesso em 06/03/2009.
LOPES, José Junio. A introdução da informática no ambiente escolar. Rio Claro: IGCE-UNESP. Disponível em: http://www.clubedoprofessor.com.br/artigos/artigojunio.pdf. Acesso em 06/03/2009.