Interatividade, Tutoria e as Relações Interpessoais no Ambiente de Aprendizagem

Estamos vivenciando uma crescente evolução tecnológica nos processos de informação e comunicação que tem motivado o aparecimento de novas tendências nos estilos de vida da sociedade contemporânea. Estas transformações têm tido repercussão nos processos educacionais, contribuindo para o surgimento de novas metodologias de ensino pautadas numa epistemologia sócio-interacionista. É óbvio que estas transformações repercutem também na educação a distância, evidenciando o papel da afetividade na construção do conhecimento.

Segundo Valéria Amorim Arantes, é preciso evitar a consolidação do “analfabetismo emocional” nesta sociedade contemporânea e para isso é necessário que os profissionais da educação sejam capazes de articular razão e sentimentos como objetos de conhecimento. Entender a afetividade na construção de conhecimentos cognitivo-afetivos requer muita tenacidade, pois é preciso romper com verdades já estabelecidas como a indissociabilidade entre a emoção e a razão.

O papel da afetividade e das emoções no ambiente virtual é evidenciado na relação interpessoal permeada pela rede mundial de computadores através dos mecanismos que os ambientes de aprendizagem disponibilizam para a comunicação entre os agentes educacionais. De acordo com Moran, é através da comunicação interpessoal autêntica que “vamos criando junto com outras pessoas novas realidades, vamos modificando nossa forma de ver e a delas, vamos ajudando-nos a perceber melhor um mesmo assunto, a modificar algum aspecto do nosso mundo. Podemos criar um novo produto, um novo enfoque no campo intelectual, um novo mercado, uma nova relação afetiva, um novo filho. Modificamo-nos pessoalmente e modificamos os outros”. Assim, construímos conhecimentos vivendo processos de comunicação autênticos.

Apesar de a comunicação autêntica ser imprescindível à construção de novos conhecimentos, cabe também ao tutor saber compreender o silêncio de alguns membros do grupo, pois há pessoas que precisam do silêncio para refletir e elaborar suas construções. No entanto, constitui tarefa bastante complexa para o tutor perceber se o silêncio é reflexivo e construtivo ou não. Muitos permanecem no silêncio virtual por timidez, dificuldades emocionais, por não concordar com algo e preferir calar-se, não dar importância ao debate, comodidade, entre outras. É indispensável ao tutor, portanto, uma percepção bastante aguçada para que, através de estratégias inteligentes, possa compreender a personalidade do participante. Constitui uma sábia atitude do tutor, compreender o silêncio do participante, porém, é primordial, também, que saiba intervir nesse silêncio munido de delicadeza, de sutileza, de leveza e de acolhimento para que o cursista possa superar suas dificuldades, adotando uma postura colaborativa com o grupo e, desta forma, construir suas aprendizagens, transformando-se pessoalmente e também os outros.

Todo o processo de comunicação deve estar centrado no aluno para que a comunicação interpessoal torne-se constante e o aluno sinta-se motivado a expor suas ideias e interagir com seus colegas, participando ativamente no seu processo de aprendizagem, pois é através da cooperação entre os alunos que a ação pedagógica se torna mais eficaz.

Neste sentido, Capelo afirma que para que o processo ensino-aprendizagem se desenvolva com qualidade é essencial estabelecer um ambiente facilitador dessa aprendizagem. Para isso, é primordial a construção de uma relação baseada na aceitação e compreensão do aluno. Ou seja, o tutor deve ser uma pessoa empática, capaz de potencializar as capacidades do aluno, estimulando-o a manter o interesse e a motivação necessários ao seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Desta forma, o tutor pode contribuir sobremaneira para o desenvolvimento de hábitos de pesquisa, de métodos e estratégias de estudo, o que exige esforço permanente por parte do tutor. Segundo Carls Rogers (1986: 326, 327) apud Capelo, "Uma abordagem desse tipo, centrada na pessoa, é uma filosofia que se acha em consonância com os valores, os objetivos e os ideais que historicamente constituíram o espírito da nossa democracia. (...) Ser plenamente humano, confiar nas pessoas, conceder liberdade com responsabilidade não são coisas fáceis de atingir. O caminho que apresentamos constitui um desafio. Envolve mudanças em nosso modo de pensar, em nossa maneira de ser , em nossos relacionamentos com os estudantes. Envolve uma dedicação difícil a um ideal democrático."

Considerando ante o exposto, pode-se concluir que a relação tutor-aluno e aluno-aluno influenciam diretamente a aprendizagem. O desenvolvimento humano não ocorre somente nos aspectos cognitivos, mas também nos aspectos afetivos. O aluno precisa ser acolhido e valorizado para que se sinta confiante a enfrentar os desafios impostos. Afetividade e inteligência se complementam sendo o vínculo afetivo um grande facilitador da aprendizagem, pois à medida que o aluno se sente aceito pelo grupo, mais facilmente supera as dificuldades apresentadas pelo conteúdo. A qualidade das interações ocorridas no grupo levará o aluno ao desenvolvimento de suas capacidades tanto cognitivas como afetivas. A comunicação tutor-aluno é, então, tão primordial quanto a comunicação com os outros alunos, pois é na comunicação interpessoal autêntica que se efetuam as trocas de experiências que consolidarão as aprendizagens de cada um.

Portanto, o tutor deve disponibilizar espaços (fóruns, chats etc) e criar atividades (desenvolvimento de tarefas em grupos, por exemplo) que possibilitam estas interações e promovam o desenvolvimento da afetividade em uma sala de aula virtual. Para isso ocorrer, é de suma importância, que o tutor tenha um comportamento empático, pois é esse o comportamento que fará com que os elos afetivos se criem e se consolidem. Para o tutor este constitui o grande desafio, pois a afetividade é o combustível de uma comunicação interpessoal autêntica e, por conseguinte, de uma aprendizagem significativa.

Referências Bibliográficas

ARANTES, Valéria Amorim. Afetividade e cognição: rompendo a dicotomia na educação. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur23/valeria.htm. Acesso em: 28 nov. 2010.
MORAN, José Manuel. As muitas formas de comunicarmo-nos. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/muitas.htm. Acesso em: 28 nov. 2010.
GONÇALVES, Maria Ilse Rodrigues. Reflexões sobre “silêncio virtual” no contexto do grupo de discussão na aprendizagem via rede. Gestão Universitária. 01/09/2004. Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com/edicoes/28-28/133-reflexoes-sobre-%5C. Acesso em: 28 nov. 2010.
CAPELO, Fernanda Mendonça. Aprendizagem centrada na pessoa. Disponível em http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=13&texto=817. Acesso em 28 nov. 2010.